O marmeleiro do francês

Segundo António Roxo, na sua Monografia de Castelo Branco, quando da primeira invasão francesa, «um corpo do exército invasor comandado pelo general Loison, seguia da Covilhã em direcção  a Castelo Branco».

«Ao ser informado na Soalheira, em 6 de Julho de 1808, da residência que ali o esperava, resolve mudar de rumo ladeando Tinalhas em direcção a Sarzedas».

Nesse trajecto, salgueiro foi também vítima das atrocidades do exército francês. Factos revoltantes chegaram até nós por tradição oral, talvez um pouco exagerados pela tendência que o povo tem para o extraordinário, mas que tem sempre um fundo de verdade.

«Um dia, pela manhã, chegaram eles triunfantes.

O povo, enlouquecido, fugia, escondendo-se nos sítios mais montanhosos, com alguns haveres e géneros alimentícios.

O corpo do exército seguiu em direcção a Sarzedas, ficando no Salgueiro um pequeno destacamento.

Numa casa situada por cima da capela de S. Sebastião, morava uma mulher chamada Joana de Almeida que foi presa pelos franceses, sendo obrigada a cozinhar para eles e a indicar, sob ameaça de morte, onde havia outros alimentos, bebidas e haveres.

Nos campos, as pessoas armavam-se como podiam, organizavam grupos guerrilheiros e escolhiam para seus chefes os padres ou outros de reconhecido dinamismo.

Mas o comandante do destacamento era severo. Detinha vários prisioneiros tornados escravos e incendiava-lhes as casas.

Graças ao apoio dos ingleses, os franceses não conseguiram os seus intentos e, após sucessivas derrotas, preparavam-se para abandonar o nosso País.

Ao saber no salgueiro a feliz notícia, procurou-se logo o tirano francês, autor de tanta velhacaria, a fim de o castigar. Bateram-lhe duramente, arrastaram-no para um local situado a Poente do cemitério, onde havia um cordão de terra -- ainda hoje existente, numa propriedade da família Silveira -- e ali o enterraram ainda com alguns sinais de vida.

No local foi posta uma vara de marmeleiro, que ganhou raízes e se desenvolveu, a qual está hoje transformada em autêntico marmeleiro.

Chamam-lhe ainda hoje «o marmeleiro do francês».