Falecimento

Falecida que é uma pessoa, a família apressa-se a cumprir os trâmites legais, a comunicar o facto ao pároco com o qual marcam a hora conveniente do funeral e ao coveiro.

Para conhecimento da povoação são dados os sinais. Numa toada triste e dolente, tocam os sinos, por duas vezes, intervaladas de curto período se é mulher, por três vezes se o finado é homem. Para as crianças, toca-se apenas sino pequeno.

Amortalhado o defunto, com fato preto do casamento se é homem, ou fato confeccionado para o efeito, preto também, se é mulher -- a mortalha -- é deposto na urna ou caixão. As solteiras, quando jovens, vão geralmente vestidas de branco.

Por todo o dia é constante a visita dos amigos do defunto como dos familiares. À chegada lançam água benta sobre o cadáver, rezam uma oração pela alma do finado e dão os pêsames, havendo quem diga aso familiares: -- Deus lhes dê saúde para lhe encomendar a sua alma. Os mais íntimos reúnem-se na casa do defunto e ali pernoitam.

A um canto da sala que serve de câmara ardente, uma mesa com um crucifixo iluminado por velas e pavios acesos em copos de azeite que os visitantes levaram. No final, o azeite que resta é oferecido à Igreja e lançado no «pote das almas» para ser utilizado na lamparina do Santíssimo.

Chega a hora do funeral. Meia hora antes, novo sinal dos sinos a havia anunciado.

À frente, a «bandeira das almas» logo seguida dos membros da respectiva Irmandade, com opas pretas, e da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, com opas brancas. Atrás, o pároco com a capa de Asperges e o sacristão, de opa vermelha, com um crucifixo. Ao lado, uma criança leva a água benta. Se a família o deseja, uma outra criança leva o turíbulo para queima do incenso e respectiva naveta.

Antigamente todos os membros das Irmandades e Confrarias eram obrigados a acompanhar o Irmão defunto que a elas pertencesse.

Com os homens à frente do caixão e as mulheres atrás, o cortejo põe-se em marcha. Os sinos continuam no mesmo ritmo triste e dolente, só interrompido quando o cortejo pára, em sítios tradicionais, nos quais o pároco reza as orações rituais.

Após a missa o defunto é levado para o cemitério onde repousará até à prometida Ressurreição.
Antigamente, era costume, após a missa do sétimo dia, certas famílias de melhores posses darem de esmola um quartilho de azeite e um pão pequeno -- uma merenda -- aos mais necessitados. Era hábito ainda, no Domingo imediato ao do enterramento, no fim da missa, o acompanhamento no qual se incorporavam as pessoas que a ela assistiam, irem junto à casa da família enlutada onde rezavam pela alma do finado e pelas almas do purgatório.

Os familiares vestem luto carregado durante um certo período tradicionalmente estabelecido. Há viúvas que andam de xaile pela cabeça os primeiros tempos e mantêm o luto por toda a vida, ou até que voltem a casar. Os homens, de um modo geral, só nos Domingos vestem de luto que se resume a gravata ou fita preta no braço. Antigamente, deixavam crescer a barba e usavam o capote ou a samarra nas cerimónias a que assistiam. Por morte dos pais, os filhos andam dois anos de luto, por avós e irmãos o período é de seis meses, três meses por tios e um mês e meio por primos.