27/Julho/1958

Agora ...... já temos luz!......

Era já um velho sonho, a electrificação do Salgueiro.

Faziam-se diligências, escreviam-se artigos nos jornais apelando para a atenção de quem detinha o poder.

Mas os meses e os anos sucediam-se com uma velocidade que embaraçava. Até que a hora chegou!

O que era sonho transformou-se em realidade em 27 de Julho de 1958.

Sabe bem recordar esta data como também há necessidade de a dar a conhecer aos mais novos que a não viveram.

Assim, transcreve-se uma parte da reportagem que o jornal «Reconquista» publicou em 3-8-58, com referência à inauguração da luz eléctrica em Salgueiro do Campo.

...... O povo do Salgueiro não se poupou a esforços e sacrifícios para exteriorizar a sua alegria, para assinalar a chegada da luz, para testemunhar aos poderes públicos a sua gratidão.

Durante semana e meia, trabalhou-se afanosamente na ornamentação das ruas da sede de freguesia, que, no dia festivo, se apresentavam cheias de arcos, bandeiras, lâmpadas, muitas lâmpadas, centenas, talvez milhares, ao longo das ruas, numa exuberante profusão que surpreendia o visitante.

Na véspera, fizeram-se experiências, o ensaio geral, e tal facto deu aso a que se iniciasse um arraial que se prolongou até às três da madrugada.

No dia 27, ao romper do dia -- memorável para o Salgueiro -- morteiros, gigantones, banda de música, zés-pereiras e gaiteiros, tomaram parte na alvorada ruidosa e festiva, que se repercutiu pelos montes e vales das redondezas, por toda a ampla vastidão desta zona do campo, transição entre as Beiras e o Alentejo.

Pelas 15 horas, o mesmo movimento ruidoso correu as ruas na recolha das fogaças, com que as castiças moçoilas salgueirenses contribuíam para a festa da luz.

Não há memória de tão rica e abundante colheita, nestes tempos recuados!

E a festa continuava pelo dia adiante, animada pela aparelhagem sonora, emitindo música, leiloando as fogaças, em despiques animados e rendosos.

Entretanto, os ranchos do Pego dos adultos e uma secção do rancho infantil da mesma localidade ribatejana, chegava à povoação, bem como a Orquestra Ideal de Portalegre. Tudo se conjugava para o momento culminante -- a chegada das entidades oficiais da sede do Distrito e da Província a que se seguiria o milagroso Fiat Lux...

E os forasteiros iam afluindo da cidade vizinha e amiga, das terras das redondezas, que a festa prometia. Muitos, muitos filhos do Salgueiro, vindos dos quatro cantos do País, ali estavam a abraçar os parentes e amigos, a dilatar a alma e o coração, ao calor da terra natal, a que nunca esquece, apesar do labutar insano noutras paragens.

Havia alegria transbordante das almas para os rostos alegres, abertos e joviais.

O momento desejado ia-se aproximando. A Orquestra alternava com a aparelhagem sonora e esta is repetindo o «slogan» -- as autoridades estão a chegar, recebâmo-las dignamente, em duas alas ao longo da estrada.

Pouco passava das 21,30 horas, quando a comissão de recepção, acompanhada da Filarmónica e muito povo, se dirigiu à entrada da povoação, onde deviam ser aguardadas as entidades oficiais.

Estas não se fizeram esperar e quando os Srs. Governador Civil, Presidente da Junta de Província e da Câmara, Deputado Dr. Alberto Falcão, além de outras entidades, desceram dos carros, foi um explosão de ruidosa e frenética alegria, que a Filarmónica e os zés-pereiras não conseguiam abafar.

Por entre alas de povo, os convidados oficiais encaminharam-se para a cabina, a uns 200 metros, e as palmas redobravam.

Frente à cabina, as crianças das escolas, com as suas bandeiras, batas brancas, acompanhadas dos seus professores, faziam guarda de honra em duas alas.

Igualmente em duas alas, mulheres idosas seguravam velas acesas, candeias de azeite, candeeiros de petróleo, lanternas, e duas moçoilas empunhavam candeeiros de «petromax».

Foi esta a iluminação que presidiu à benção da cabina, feita pelo Sr. Cónego Anacleto, arcipreste de Castelo Branco, acolitado pelos párocos de Salgueiro e Almaceda, na presença das entidades oficiais.

Accionado pelo Sr. Governador Civil, o manípulo, foi o delírio. Morteiros, palmas, vivas, momento indescritível.

O Salgueiro agora já é outro, ouvíamos à nossa volta, à gente simples do povo. Agora é outra coisa, já temos luz!!!...

Serenados os vivas e aclamações, num ambiente feérico de luz a jorros, as entidades oficiais e convidados de honra tomaram lugar na tribuna.

Seguiu-se a sessão ao ar livre.

Pelo Salgueiro falaram os Srs. Joaquim Baptista Mendes, prof. Rafael Agostinho Lourenço e o António Monteiro dos santos, prof. da Escola do Exército.

No seu conjunto agradeceram a presença das autoridades distritais, louvaram a sua acção administrativa, salientaram o valor do melhoramento inaugurado, a repercussão que o mesmo teve no espírito do povo do Salgueiro que rebocou e caiou 80% das suas moradias para esta festa. renderam homenagem à acção da Junta de Freguesia de que é presidente o Sr. António Afonso.

Das entidades usaram da palavra os Srs. Presidente da Câmara, Presidente da Junta de Província, Deputado Dr. Alberto falcão, Cónego Anacleto e por fim o Governador Civil.

A seguir foi servido às entidades oficiais e convidados um abundante Porto de Honra em recinto decorado, no quintal de José Baptista da Silva e donde se apreciava uma bela panorâmica do arraial, com danças, exibição do rancho do pego, Orquestra Ideal, aparelhagem sonora, Filarmónica e gaiteiros, e que prosseguiu até alta madrugada.

Salgueiro do Campo assinalou com festividades excepcionais a sua electrificação. No dia da inauguração estavam já feitas 90 instalações particulares, subindo a mais de 100 os pedidos iniciais.

Num livro branco comemorativo das festas da Luz, foi feita a recolha de assinaturas das entidades presentes, visitantes e salgueirenses.

A Comissão das Festas Pró-Luz era constituída por: Joaquim Baptista Mendes, António de Azevedo Afonso, José Agostinho Lourenço, Padre Agostinho Nunes Nogueira, Prof. Manuel Mendes, Albano Baptista, José Baptista da Silva, Manuel Pedro Martinho, José Nunes de Azevedo, Francisco Batista, João Gomes Afonso, António dos Santos Belo, José Agostinho Jerónimo, João Mendes Campos, António Pires Martins, Joaquim Nunes da Silva, Manuel Augusto Monteiro, António da Silva, Tomás Martins, Manuel Pedro da Silva, Francisco Lourenço, José Barata, Joaquim Lourenço da Silva e Manuel Augusto Paulo.