O sino do Juncal (1917)

Houve, em tempos recuados, forte rivalidade entre Salgueiro e Juncal.

Não era proeza fácil a um rapaz do salgueiro casar com uma rapariga do Juncal ou vice-versa. A participação dos rapazes do salgueiro nos bailes do Juncal era arriscada e quase proibitiva, o mesmo acontecendo aos rapazes do Juncal quando vinham ao Salgueiro.

A disputa pela passagem da estrada mais intensificou essa rivalidade, o que deu aso a várias manifestações de antipatia. Aconteciam geralmente nas romarias, nas lutas travadas entre os dois povos: aí explodia o ódio que entre eles existia. Não havia homens que ao irem à romaria -- principalmente à Senhora do Valverde -- se não fizessem acompanhar com um forte varapau e contam-se casos de autênticas batalhas campais.

Certa vez um grupo de salgueirenses pensou ir «roubar» o sino da capela de S. Simão, no Juncal.

Se bem o pensou, melhor o fez, contente pela imaginação das consequências do acto.

E aí vão eles, decididos, pela calada da noite. Postaram-se dois em cada rua que dá para o largo da capela, bem armados, dispostos a tudo. Os restantes sobem ao campanário, enrolam um casaco ao badalo do sino e toca à desmontagem.

Foi certamente um período tenso, que lhes deve ter parecido bastante longo.
Executado o trabalho -- ainda interrompido por terem ouvido numa casa próxima o choro de uma criança -- aí vêm os «heróis» a caminho do Salgueiro.

Penduraram o sino na varanda de uma casa -- hoje demolida -- junto ao Largo da Praça, e recolheram a casa comprometendo-se ao sigilo absoluto.

Na manhã seguinte, a euforia manifestada pelos habitantes do Salgueiro era justamente contraposta pela revolta dos habitantes do Juncal e, principalmente, quando tiveram conhecimento do paradeiro do sino.

Não tardou que algumas pessoas do Juncal chegassem ao Salgueiro acompanhadas da G.N.R.

O sino voltou ao seu lugar, no Juncal, mas os autores da proeza só mais tarde, quando os ânimos já serenados, se identificaram.

Dos «heróis» ficaram os seus nomes: Joaquim Barata (caixeiro), João Lourenço, António Brás, João Pires Simão, Eduardo Mendes da Silva, João Cascão, José Daniel e António Moleiro.