Meios de transporte
Salgueiro do Campo está ligada a Castelo Branco e a Coimbra pela Estrada Nacional 112, das quais dista 11 e 142 quilómetros, respectivamente.
Está ligado a todas as povoações vizinhas por Estradas Municipais asfaltadas.
É servido por carreiras diárias da Rodoviária da Beira Interior e pela empresa Auto-Transportes do Fundão. Muitos operários que trabalham em Castelo Branco agrupam-se e deslocam-se em automóvel próprio.
A rede viária que serve as propriedades rústicas é deficiente e de difícil conservação. O terreno é inclinado e sofre facilmente os efeitos da erosão o que torna os caminhos pouco transitáveis.
Já lá vai o tempo em que os nossos antepassados, para transportarem os seus produtos de venda para Castelo Branco, sacrifícios passaram que só a grande necessidade os obrigava.
O caminho de Salgueiro do Campo a Castelo Branco, por sítios ásperos e pedregosos, era um dos obstáculos difíceis de vencer para as gentes remotas.
Subiam os carros de bois, carregados com o casco de azeite, vinho, carvão ou madeira, as actuais ruas Grande, S. Sebastião e Calvário, donde seguiam até à Fonte Fria por caminho que ainda hoje existe. Um outro caminho muito utilizado era pelos Covões, Vale da Moreira, indo até ao Portal da Raia onde se juntava o caminho que seguia pela Fonte Fria. dali, pelos caminhos do lapa d'Urso e do Gaia, chegavam ao Ribeiro do Freixial e, após árduos trabalhos puxando os carros na subida, avistavam o Ocreza que por vezes os fazia voltar em virtude das cheias.
Mas se a água os não impedia de segurem viagem, o seu esforço concentrava-se, pois era naquelas subidas do Ocreza e do Rouxinol que maior esforço lhes era exigido.
Por vezes e não raras, o carro se voltava, o eixo de pau partia, ou qualquer outro precalço acontecia, e o casco de azeite, fruto de um ano de trabalho e promessas de um ano de pão, rolava pela encosta e só parava quando desfeito e esvaído o precioso líquido.
Estas viagens eram feitas em grupos de quatro e cinco juntas de bois porque nas subidas difíceis de escalar havia necessidade de colocar várias juntas para um só carro -- dar quimbão, na linguagem popular.
Passaram-se os anos e, em 1913 começou a construção da estrada que ligaria Salgueiro do Campo a Castelo Branco.
Já a estrada chegava ao Ocreza quando, por motivo de revoltas internas -- era o período da anarquia -- pararam os trabalhos. estavam já as pontes construídas (1916) e portanto a maior dificuldade da ida a Castelo Branco estava vencida.
A juntar ao negócio do azeite e do vinho, intensificou-se o do carvão e começou o negócio da resina e da madeira.
A paz voltou a reinar em Portugal. Estabilizaram-se as finanças. O movimento renovador começou alastrando pelo país e foi projectado o prolongamento da estrada ao encontro com o troço que ligaria a Coimbra (1930).
Os meios de comunicação e as facilidades de transporte são factores importantes no desenvolvimento das povoações por eles servidos.
Assim, a povoação do Juncal, que nesse tempo fazia ainda parte da freguesia de Salgueiro, disputou com a sede a passagem da estrada. Efectuaram-se diligências e. apesar de os salgueirenses só serem pessoas gradas pelo amor à sua terra, conseguiram, à face da justiça, que vencesse aquele que é portador de mais ambições, de maiores e mais promissoras obras de desenvolvimento futuro.
Todos os terrenos ocupados com a construção da estrada e cujos proprietários eram do Salgueiro, foram oferecidos.
Simultaneamente foram melhor aproveitadas as águas da Fonte Fria cujo fontenário ficou junto à estrada.
Tudo isto foi motivo para que alguns salgueirenses, fazendo uso da sua veia poética, destacassem em verso a importância que para eles tiveram os citados melhoramentos:
Lindo povo do Salgueiro
Já tens dobrada valia
Com a ponte da Ocreza
E as águas da Fonte Fria.
Em tempos que vão além,
Quando eu era rapaz,
Com o dinheiro tudo se faz,
Caminhos p'ra s'andar bem.
Eu conto a razão porém,
Olhem que isto é verdadeiro,
Já vales o dobro do dinheiro
Devido aos teus bons caminhos
Que antigamente não tinhas,
Lindo povo do salgueiro.
Ao cimo do Ribeiro D'Ega
Esteve a estrada amarrada,
Quarenta anos e menos nada.
Mas agora já não sossega
E p'ra diante navega
E ela lá vai em guia,
Par'andar de noite e dia,
Quem tiver de fazer jornada,
Pois já é nova a estrada
Já tens dobrada valia.
Naquele tempo do inverno,
Quando a ribeira ia cheia,
Não se vendo pedras nem areia,
Era um castigo eterno.
Mas já acabou esse inferno,
Hoje em dia é uma beleza,
Chama-se a isto uma riqueza,
Para o povo português,
A melhor obra que se fez
Com a ponte da Ocreza.
Inda houve falsificadores
Que quiseram fazer mal,
Levar a estrada par'ó Juncal.
Eram esses homens traidores,
Mas'inda houve outros senhores,
Que esses sim com mais valia,
Meteram a estrada em via,
Arrombando as trincheiras
E cortando as oliveiras
E as águas da Fonte Fria.
